sexta-feira, 30 de outubro de 2009

O Marigha

Dia 4 agora vão fazer 40 anos do assassinato do mais libertário dos líderes de guerrilha aqui do Brasil. Carlos Marighella vai virar cidadão paulistano depois de ter sido morto pelo pensamento dos homens de bem (cof, cof, cof) daqui da urbe monstruosa. Hehehehe, sutil ironia. As homenagens vão acontecer na (tampem o nariz) Câmara Municipal, por iniciativa do Ítalo Cardoso e mais importante, no lugar do suposto tiroteio, Alameda Casabranca nº 806 às 11:00 da matina.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Sabotando o capital

A liberdade toma um rumo diferente em tempos de globalização econômica. Talvez os nossos desejos tenham se tornado mercadoria e a nossa liberdade a ferramenta para sua aquisição. Infelizmente o capitalismo já não está só entre nós, já nos consume por completo. No entanto, podemos nos relacionar com o capital de uma forma que a perspectiva que ele quer nos impor seja invertida, ou seja, podemos conquistar nossa liberdade de forma criativa utilizando os recursos criminosos do sistema para criminalizar o capital.

Já não necessitamos mais de sacrifícios e de uma vida resignada com a exploração para nos mantermos vivos e termos aquilo que nos agrada, tampouco necessitamos nos mantermos fiéis aos princípios morais de uma sociedade que se conforma com a miséria e se mantém honesta em aceitar passivamente as determinações e a ditadura do capital, precisamos apenas revolucionar as formas do cotidiano e criarmos situações que manifestem uma profunda mudança nas relações entre os indivíduos, pois é na relação entre coisas e pessoas é que habita o capital e suas implicações necessárias: miséria, fome, sobrevivência... É chegada à hora de nos divertirmos, de darmos ênfase aos nossos desejos, de desfrutarmos a vida vivendo e não morrendo em troca de dinheiro, chegou à hora de gozarmos ilimitadamente à custa do capitalismo.


DVB - Quando você se ligou que roubar era o esquema?
Ele* - Comecei roubando não porque existia a necessidade de roubar, mas sim pelo prazer de ter as coisas ali na sua mão, coisas que você não pode ter mais deseja, coisas que a vida inteira te ensinam a gostar, desejar e você nunca pode ter e foi nesse momento que eu pensei "eu quero ter essa porra", eu vou roubar e vou ter, ta ligado? E hoje em dia não passo mais vontade! Existem muitas coisas que não da pra roubar mais tudo que eu vejo e é possível de se roubar eu roubo e não me pesa isso não!
Ela* - Começou quando vi minha cunhada roubando e eu sempre tive vontade de fazer, até mesmo porque as coisas que eu tinha vontade de ter eram super caras e eu jamais iria pagar, eu acho que não vale à pena gastar dinheiro com essas coisas, e acabei influenciada pela minha cunhada! Eu não achava justo o valor que as pessoas davam, dinheiro é uma coisa que as coisas estipulam e nem sempre é aquilo, e também a facilidade de ser mulher e menos visada, as pessoas olham pra mim e nem imaginam que eu roubo!

DVB - E como você escolhe o que rouba e de onde rouba?
Ele* - Eu tenho um principio de não roubar de pessoa para pessoa, de uma pessoa que esta tão fodida quanto eu, de uma pessoa que tem um estabelecimento pobre, que se fode pra pagar impostos, se fode pra comprar mercadoria, não ganha dinheiro, não tem lucro com aquilo!
Eu só roubo os lugares que me roubam, supermercados, padarias, shoppings essas porras todas que a gente saca que tem um lucro em cima da nossa vida por muitos anos e a gente nunca vê parte disso, um exemplo é uma coisa que poderia custar 10 Reais e no mercado custa 35 saca...

DVB - O que você acha das pessoas que são cleptomaníacos ou pessoas que roubam no fim de enriquecer mesmo, tipo crime organizado?
Ele* - Quando você rouba visando um lucro, visando todo um esquema de vende e ganhar dinheiro e ficar “rico” com aquilo, você só esta fazendo aquilo acontecer mais e mais, reproduzindo o que já esta sendo feito, participando de tudo que você é contra, e fazendo acontecer pior ainda, entendeu ?!
Ser clepto é muito zuado porque você rouba sem existir a necessidade de você ter ou sem existir a vontade de você ter a parada, sei lá , tipo se você já tem um par de tênis, e não precisa de outro tênis, você simplesmente rouba porque sentiu vontade de roubar e nunca vai usar o tênis na sua vida, ou joga fora e isso é zoado, mais a partir do momento em que há necessidade, você gosta ou você acha bonito e vai usufruir do produto, é uma coisa que você desejou e você não tem dinheiro pra comprar, ae já é outra historia! Deixa de ser clepto pra ser um roubo consciente, sadio, "eu quero essa porra", "eu preciso disso" e acho isso mais valido do que simplesmente roubar porque é "bonitinho" roubar ou roubar sem necessidade.

DVB - E toda essa ação é feita por você e sua esposa, como ela começou isso, como isso refletiu no relacionamento?
Ele* - Nossa relação com o roubo assim entre marido e mulher só deixou tudo melhor, a gente se da muito bem quando vamos ao mercado, ela não fica só olhando as roupas e eu os eletrônicos, ou simplesmente eu tenho que esperar ela olhar e provar tudo que ela quer como a maioria dos homens detesta (risada).

DVB - Então da rotina monótona dos casais normais isso acabou virando um passatempo divertido?
Ele* - Hoje em dia a gente conta os dias para ir às compras, ta ligado? Porque não é sempre que da tempo, mais é assim, se no domingo vamos ao mercado no sábado já fica na expectativa e chegando ao mercado cada um vai no seu canto, escolher as coisas que vai levar pra casa e isso tudo sem pagar é claro!
Ela* - Virou uma cumplicidade, um vê o que o outro quer, o outro já vê se tem alarme, um tira o alarme e outro esconde, um sempre pensa no outro e você percebe que é legal que você não roda, vira uma obrigação.
Ele* - Hoje em dia se vou ao mercado e não levo nada eu saio triste, molestado, como se meu dinheiro não valesse nada, como se eu tivesse perdendo, alguém me roubou e eu to fudido!

DVB- Mais vocês compram coisas também? Como vocês definem o que roubar e o que pagar?
Ele* - Se eu pudesse roubava tudo, mas como é menos alarmante você pagar algo, passar pelo caixa para se no caso do alarme tocar você ter passado e comprado algo e ter pegado fila, porque não funciona roubar e sair pela porta da frente como se nada tivesse acontecido! É embaçado, todo mundo fica te olhando, tem sistema de segurança, câmera e tal...Então a gente tenta pagar o mais barato ou o que vamos consumir na hora, pode ser uma merda de um refrigerante ou uma pasta de dente, coisas que a gente precisa como papel higiênico ou um pão na hora, mas jamais coisas mais caras que podemos deixar pra depois, a gente sempre rouba essas coisas...

DVB - E como fazem com os alarmes?
Ele* - Porra velho, alarme é um lance chato! Geralmente quando vamos pegar roupas procuramos sem alarme, mas se as que a gente quer tem ai da um trampo. Geralmente é aquele alarme achatadinho, como um rebite, então pego escondido com a mão dentro do carinho, enfiada na roupa e vou virando pra um lado pro outro e torcendo, dói o dedo, às vezes machuca a mão mais da pra tirar, outra maneira é rasgar a roupa mais fica um buraquinho, o problema que a gente tem geralmente é nas roupas, o resto é fácil!

Também tem alarmes de caixas de DVDs, é uma caixa de acrílico e da mó trampo pra abrir, uma vez roubei um usando um pacote de pregos e um martelo do próprio mercado, fiquei batendo o prego na trava, e andei batendo por todo mercado, quando o corredor tava vazio eu batia mais forte, quando começou a sair, eu peguei um alicate também do mercado, puxei a ponta e destravou o DVD que custava 120 reais, na verdade um jogo, que eu não tenho necessidade disso, mais era um presente pra um amigo e esse foi o problema maior que eu tive com alarme! Tirar geralmente é muito fácil, difícil é o que fazer com o alarme depois que você tira!

DVB - E como vocês se livram do alarme?
Ela* - Se tiver como livrar dentro do provador mesmo, atrás do espelho, em cima da porta, jogar no outro provador vazio, se não der coloca no bolso e entoca em uma prateleira qualquer que vai demorar dias ou semanas pra alguém achar o alarme estourado.

DVB - E em relação a aquelas pessoas que ficam contando o numero de roupas que vocês levam para dentro do provador?
Ela* - Quando tem controle de numero de roupas a gente tenta roubar sem provar mesmo.

DVB - O visual influencia na ação? Ser uma pessoa “normal” ajuda? Como vocês fazem em relação a ele que é barbudo, cabelo de cachorro, tatuado e ridículo?
Ela* - O visual conta bastante , ele escolhe as coisas e me passa!
Ele * - É importante lembrar que eu nunca pego nada, eu escolho e coloco no carrinho, minha parte é só identificar alarmes, tirar, ver posicionamento de câmeras, a gente sempre ta com criança e isso diminui a atenção também!
Vamos como uma família normal, mais acabamos não sendo, bem no meu ponto de vista eu sou normal, não é porque eu roubo que eu não sou normal, eu acho isso normal, bonito, saudável!
Na hora de sair, como ta tudo com ela e eu passo junto com ela na saída onde apita, se tiver algo e apitar eu paro e ela segue, então se alguém for verificar se a gente ta roubando algo eles vem em cima de mim primeiro, o barbudo, mendigo louco e é lógico que eu não vou ter nada, enquanto ela sai de fina e eu encontro com ela depois!

DVB - Logo no começo dessa entrevista ele nos afirma; “na minha família todo mundo rouba, menos meu pai e minha mãe, e minha irmã mais velha que arrumou um bom partido ( risos) !”
Então nos conte alguma situação em família!
Ele* - Cara meu irmão rouba muito na Europa, e minha irmã é muito engraçada, se você vê algo que você fala não tenho a manha de roubar, ela olha pra tua cara, ri e fala “Ah não? Porra você é um bosta mesmo!”, ai ela vai e faz a fita!
Uma vez ela comprou dois pneus pro carro, deve ter dado em media uns 300 reais, ela pagou saio com os pneus e guardo no carro, e voltou com a nota ao mercado pegou mais dois de graça, então o jogo de pneu pra ela saiu metade do preço! Também teve uma bateria de carro, que eles roubaram, e não eram compatível ao modelo do carro deles, e no mesmo dia eles voltaram e pegaram a bateria certa, e mais uma pro carro do meu pai, ela e o marido tem muita facilidade, já roubaram barraca de camping, colchões, travesseiros, cobertores, brinquedos para as crianças, comidas, coisas vegetais, que são um tipo de alimento elitizado muito caro, hambúrgueres, maionese, sai tudo de graça!
Minha irmã e o marido têm dois filhos, eles socialmente são pessoas normais, ambos trabalham, geralmente vão ao mercado após o trabalho em traje social, estão encaixadas naquele meio burguês então ninguém percebe nada, ninguém olha, é diferente de um mendigo, feidido, de mulecada suja, que todos olhas e discriminam! Eles são pessoas limpas, normais aos olhos de todos, mais são pessoas que tem uma atitude que pra mim é bonita! (*nossa esse bonita fico um lixo!)

DVB - Como o ele mencionou a questão dos filhos, hoje em dia a tua filha não tem a dimensão exata daquilo que é feito e até não consegue ver, mais como vocês pretendem explicar isso pra ela enquanto toda sociedade escola e etc ensina que isso é errado?
Ela* - È foda, não sei se é cinismo, ou hipocrisia, mais eu nunca parei pra pensar nisso, explicar deixar isso claro, afinal não vemos nada de errado. É difícil pensar nisso, ela é nova, mais quando ela questionar vamos conversar sobre valores, ter noção do que é uma pessoa investindo em algo ou uma empresa, a criança faz aquilo que tem vontade, o que tem que ser explicado é que é bem diferente roubar os próprios pais ou amiguinhos e que a gente ta tudo na mesma, tem que explicar sobre o capitalismo, o quando a gente ta afundado nisso, o quanto a gente se fode, mais é tudo questão de conversar trabalhar os valores, os reais valores, se é uma marca ou aquilo que ta na moda ou se é aquilo que te satisfaz de qualquer modo. Se você for ver ela tem 4 anos, se você der uma bala ou um lápis de 1.99 pra ela não faz diferença e em casa todo mundo usa camisa lisa. Temos que ensinar os reais valores, isso já vem acontecendo e esta construindo o caráter deixando de lado o que todo mundo tem ou o que é fudido ou está na moda!

DVB - A entrevista foi muito esclarecedora pra gente, e como consideração final eu queria que vocês deixassem uma mensagem que considera esse tipo de atitude ilegal, ruim, não exemplar!
Ele* - Cara uma vez um amigo me disse: “Puta você rouba meu? Mais você acha certo?” e eu disse que achava certo e perguntei o porquê ele achava que estava errado, ele disse que “porque sim” e retrucou dizendo que “as coisas estão lá pra ser vendidas e ninguém tem o direito de roubar nada de ninguém!”
Porra meu, mais como assim? Você é roubado todo dia desde quando você nasce, desde quando você tem de tirar um documento e pagar um imposto, quando você da descarga todos os dias a água que leva sua merda ou quando você utiliza energia elétrica, enfim, em todo momento que você existe você esta sendo roubado. Eles te roubam quando você nasce e nunca te devolvem.
Te devolvem uma maneira de sobreviver, de se rastejar, arrumar um trabalho perdendo dois terços do teu dia trabalhando, você tem um salário irrisório que da pra comprar o que eles fabricam , que eles te vendem, entendeu?
Então se você pensa que não é roubado então não roube ninguém, que fique elas por elas se você acha certo! Só que essa não é minha opinião, eu me relaciono com eles da forma que eles se relacionam comigo, se eles me roubam eu roubo também, então é basicamente isso!

Uma pessoa que acha que a vida esta ótima, então não rouba, compre tudo, então foda-se seu salário, foda-se emprego de merda, foda-se seu tempo, foda-se seu dia, foda-se sua semana, foda-se seu mês, foda-se as férias que você não tira, entendeu?
Você merece tudo isso que você tem, pra mim você é só um bosta que aceita essa vida de merda!


E no fim dessa entrevista eu ganhei um presente, uma caixa de lápis FaberCastel de 36 cores que custam 40 reais!
Depois sorrindo eles afirmaram que nessa merda de natal todos os amigos ganharão presentes e jogados no meio da sala de estar acabamos a noite jogando um Uno patrocinado pelas lojas americanas!

*aprenda a tomar o que é seu por direito com as dicas do Yo Mango
http://brasil.indymedia.org/media/2007/10//398527.pdf


terça-feira, 20 de outubro de 2009

O que é uma idéia?

Ou melhor daonde vêm elas? Da visão pessoal de cada um? Ou da visão geral de nós enquanto seres humanos?
Um livre pensador estaria apto a recebê-la e devolvê-la ao mundo, um materialista dialético tentaria retê-la para si por todas as maneiras possíveis, um ser comum dos dias atuais tentaria achar algum proveito e transformá-la em dinheiro.
Alguma idéia? Porque temos idéias? Porque fazemos algo para outras pessoas lerem? Será que somos diferentes por ainda nos importarmos com o coletivo? Bonita palavra essa...

"COLETIVO",

já muito poucos conseguem dar ou entender o sentido dessa idéia. Coletivo. Não, não é aquele busão que eu pegava pra cima e pra baixo da urbe monstruosa. Não, também não é aquela comunidade mutcholoca em que meus primos se meteram nos anos 70. O coletivo humano está aí, sem ser algo definido e com todas suas mazelas e acertos; e como recentemente me vi fazendo parte dele de novo vou tentar passar alguma coisa nestas mal traçadas.
Sim, comecemos.